Seremos assassinos?...

 

Falar de baleias/cachalotes, do seu marfim e consequentemente de "Srimshaw" já foi mais fácil. Hoje, muitas pessoas, indirectamente condenam esta arte, preferindo acreditar que nestas ilhas ainda se matam estes mamíferos com o intuito de lhes retirar os dentes que ainda vão surgindo no nosso comércio, mas estão enganados.

É sabido que, presentemente, em zonas do continente africano, elefantes e rinocerontes continuam a ser mortos por este motivo desde há centenas de anos, única e exclusivamente por causa do seu marfim. Os cachalotes nunca foram mortos por causa dos seus dentes de marfim. De facto, os seus dentes, muitas vezes, eram abandonados ou, quando era o caso, enterrados junto com as ossadas do animal. Realmente estes cetáceos têm sido objecto de caça ao longo dos séculos, mas pela sua carne, que era utilizada no fabrico de farinhas, e principalmente pela sua gordura, pelas barbas de baleia, pelo espermacete e pelo âmbar cinzento dos cachalotes.

Em meados do século XX, verificou-se que muitas populações de baleias estavam à beira da extinção. Então, no ano 1986, a Comissão Internacional das Baleias decretou uma moratória para a captura destes cetáceos. Portugal, sendo um dos membros desta comissão, fez-se cumpridor desta moratória. Os Açores, como região portuguesa que é, teve de encerrar toda a indústria baleeira que possuía. Porém, alguns países membros desta comissão não aderiram a esta moratória, como é o caso da Noruega, Islândia e Japão. Além disso, os aborígenes da Sibéria, do Alasca e do Canadá estão autorizados a caçar baleias, não para fins comerciais, apenas para sua subsistência e por razões culturais. 

Actualmente ainda existem dentes de cachalote na nossa região. Na verdade, conheço uma ou outra pessoa que possuem pequenas "fortunas" em marfim no seu estado natural, dentes estes que, lentamente, vão sendo introduzidos no nosso mercado. Porém existem outras fontes. Mergulhando em zonas próximas de antigas indústrias baleeiras, acham-se dentes no fundo do mar, na sua maioria de qualidade medíocre embora por vezes se encontrem dentes em boas condições. Também se julga (e talvez bem) que entram na região dentes originários de países que ainda fazem caça a baleia.

Tanto quanto sei, nestas ilhas não se matam cachalotes e as peças de marfim que ainda vão surgindo em quantidade decrescente vão fazendo prever que o marfim de cachalote nos Açores, num futuro próximo, será uma autêntica raridade.

Srimshaw, um legado que honra o passado da nossa região.

Entendo que para a grande maioria das nossas gentes pouco interessa que deixe de existir marfim na nossa região. Eu preocupo-me porque sinto que a arte em "Scrimshaw" é tão singular e identificativa da nossa cultura que o acto de a tentar fazer em grande quantidade e a troco de «meia dúzia de centavos» não só destrói o pouco marfim que ainda temos como também não dignifica em nada  a nossa história e a nossa cultura, nem mesmo os cetáceos.

Faço um apelo a todos os que gravam ou esculpam estas peças: aqueles que gostam realmente desta arte, a vocês peço para que não se deixem comprar, pratiquem-na com prazer e dedicação em prol de uma verdadeira "arte". Honrando-se a si mesmos bem como à nossa cultura e à nossa gente.

 

 
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